A hanseníase, anteriormente conhecida como lepra, é uma doença infectocontagiosa milenar – seus primeiros registros datam de 600 A.C. – causada por uma bactéria denominada Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, presente, ainda hoje, em muitas partes do planeta. Acomete homens e mulheres em igual proporção, de qualquer idade e afeta principalmente pele e nervos periféricos (superficiais).
Trata-se de um grave problema de saúde pública no Brasil, atingindo cerca de 30 mil pessoas por ano, sendo mais prevalente nas regiões norte, centro-oeste e nordeste. Apesar de sua grande prevalência, é uma doença negligenciada tanto pelos tomadores de decisão como pela indústria farmacêutica que não enxergam prioridade em sua prevenção e no seu tratamento.
A bactéria é transmitida através das vias aéreas superiores, por contato com gotículas de saliva ou secreção nasal. Para que haja contaminação, é necessária uma exposição prolongada à bactéria, por meio de convívio próximo com uma pessoa doente, que não esteja em tratamento (iniciado o tratamento, a bactéria não é mais transmitida). Após o contato com o bacilo, o indivíduo pode ou não desenvolver a doença. Isso dependerá da predisposição genética de cada um.
A hanseníase é uma doença crônica de evolução lenta, visto que os primeiros sintomas podem levar de 2 a 7 anos para aparecerem. Ela pode se apresentar de diversas formas, mais leves ou mais graves, dependendo do organismo. Os principais sinais e sintomas compreendem:
- Manchas (*) (esbranquiçadas, amarronzadas e avermelhadas) na pele com alterações na sensibilidade dolorosa (não dói), térmica e tátil (não é sensível ao toque). Elas podem ser únicas ou múltiplas;
- Sensação de fisgada, choque, dormência e formigamento ao longo dos nervos dos membros;
- Perda de pelos em algumas áreas e redução da transpiração;
- Inchaço e dor nas mãos, pés e articulações;
- Bolhas e feridas em mãos e pés;
- Dor e espessamento nos nervos periféricos;
- Redução da força muscular, sobretudo nas mãos e pés;
- Caroços no corpo;
- Pele seca;
- Olhos ressecados;
- Feridas, sangramento e sensação de ressecamento no nariz;
- Febre e mal-estar geral.
(*): O aspecto e a localização das lesões, as regiões da pele anestesiadas e o comprometimento dos nervos podem variar bastante.
O diagnóstico da doença é essencialmente clínico, realizado pelo médico por meio do exame físico do paciente. Em alguns casos, exames complementares como baciloscopia e biópsia de pele podem ser necessários. A hanseníase é uma doença curável, porém pode ser transmitida e deixar sequelas se o diagnóstico demorar muito para ser feito.
O tratamento da hanseníase é feito ambulatoriamente com antibióticos em comprimidos, com duração média entre 6 a 12 meses. É importante que o paciente siga o tratamento de maneira regular até o fim para que se cure de forma definitiva, não permitindo o retorno da doença. Quanto antes o tratamento for iniciado, menor o risco de sequelas. Não existe nenhuma indicação para isolamento do doente.
A doença deixa de ser transmitida assim que o tratamento tem início, evidenciando a necessidade de diagnosticar e tratar rapidamente o paciente, tanto para prevenir complicações, quanto para evitar a transmissão.
As lesões de pele são bastante distintas entre si e podem ser confundidas com outras doenças. Desse modo, é imprescindível sempre consultar um médico em caso de presença de quaisquer sinais e sintomas suspeitos.
Em caso de diagnóstico confirmado, as pessoas com quem o paciente tem contato (familiares, amigos, colegas de trabalho) também devem ser examinadas pelo médico.
O desconhecimento sobre a doença faz surgir preconceitos que só dificultam o adequado controle da hanseníase!