Essa data comemorativa foi criada para mostrar a importância dessa especialidade médica na atuação de todas as áreas de atenção primária dos sistemas de saúde (primeiro nível de atenção em saúde).
No Brasil, é comum haver uma confusão entre o médico de família e o clínico geral. Trata-se de funções diferentes, embora complementares. Enquanto o segundo trata especificamente da doença (foco pontual), o primeiro tem o foco na pessoa (foco longitudinal), ou seja, o paciente é acompanhado durante todas as fases da vida, do nascer ao morrer.
A Medicina de Família e Comunidade (MFC) foi reconhecida oficialmente no Brasil como especialidade médica pela Associação Médica Brasileira (AMB) em 2002 e, a partir de então, tem se estabelecido como uma das mais importantes para consolidação da Atenção Primária à Saúde (APS), tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) como no sistema suplementar de saúde (planos e seguros de saúde).
A MFC, uma especialidade médica eminentemente clínica, desenvolve práticas de promoção, proteção e recuperação da saúde. Seus princípios e práticas são centrados no indivíduo e na sua relação com o médico, com a família e com a comunidade em que vive. A formação (residência médica) tem duração de dois anos, com um terceiro ano opcional.
A especialidade aborda o processo saúde-adoecimento como um fenômeno complexo, relacionado à interação de fatores biológicos, psicológicos, socioambientais e espirituais, fortemente influenciado pela estrutura familiar e comunitária do indivíduo.
O profissional, especialista em pessoas, está apto para resolver grande parte das queixas dos pacientes que chegam na atenção primária (aproximadamente 85% das queixas dos pacientes podem ser resolvidas pelo médico de família; as demais são encaminhados para outras especialidades).
Em suma, o médico da família/comunidade acompanha as pessoas ao longo da vida, independentemente de gênero, idade, doença, integrando ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde.
Esses médicos estão sempre nos locais em que são necessários (região delimitada geograficamente), independentemente do horário, eles são a linha de frente para diversos problemas, fazendo parte da comunidade em que trabalham. Seu objetivo é prestar um atendimento acessível, de qualidade e sustentável para o seu paciente.
Além disso, a MFC tem um papel fundamental não apenas no âmbito da prática médica, mas igualmente na formação de recursos humanos e no desenvolvimento de pesquisas, contribuindo para uma maior efetividade dessas áreas.
O trabalho é desenvolvido em equipe. Além do médico da família, ela contempla pessoal de enfermagem (enfermeiros e técnicos), agentes comunitários (principais responsáveis por criar o vínculo com a comunidade e, eventualmente, dentistas. Em bairros onde predominam jovens sem doenças crônicas, a equipe atende mais pessoas. Já em locais onde vivem muitos idosos, que frequentam mais os serviços de saúde, não há expansão dos serviços para muita gente.
Apesar do crescimento da especialidade no país, que contava em 2020 com pouco mais de 7.000 profissionais, seriam necessários, aproximadamente, 70 mil médicos de família e comunidade para dar conta de todo o trabalho atualmente. Ou seja, o Brasil precisa aumentar em 10 vezes o número atual de profissionais para atender às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece que cerca de 40% a 50% de profissionais médicos sejam especialistas em Família e Comunidade.